A força do Boxe mexicano
Jorge Luiz Tourinho
9 de novembro de 2023
São milhares de boxeadores ativos com registro no indispensável site Boxrec. Devem ser um pouco mais. Com uma população estimada em 126 milhões de habitantes, como pode ter diversos campeões mundiais ao longo dos anos?
Foi através da consolidação da modalidade profissional desde priscas eras. Claro que existe grande popularidade, mas foi com as centenas de eventos envolvendo profissionais que o México se instalou como potência na Nobre Arte.
Para eles pouco importa se amadores ganharão medalhas. Aliás, a participação em Jogos Olímpicos ou Mundiais IBA (ex-AIBA) é para conseguir contrato com empresa promotora. Não conheço lutador de nacionalidade mexicana que tenha passado por mais de um ciclo olímpico. Tampouco há seleções nacionais formadas por atletas que se tornam funcionários públicos para apenas treinar e competir.
Olhando um pouco para trás, poderemos ver que, no auge do Boxe no Brasil, os programas pugilísticos eram feitos em ginásios nos quais havia a cobrança de ingressos. Lembro da última conquista do extraordinário Eder Jofre em Brasília. Ginásio lotado. Multidão delirou e fez festa quando anunciaram a vitória sobre José Legrá e o título dos penas.
De lá para cá passaram a rarear os promotores. A consequência natural foi a queda da atividade. Sem ter como se manter como boxeadores e com poucas oportunidades para se apresentar e ganhar as merecidas bolsas, os guerreiros tiveram que se bandear para outras atividades. Afinal, precisavam e precisam comer e pagar suas despesas.
Com cada vez menos eventos o público foi envelhecendo e buscando outros esportes. Aí veio outra invenção nefasta: a entrada franca ou troca por alimento. A crise econômica ajudou a empurrar o Boxe profissional ladeira abaixo, mas ainda há espaço e condições para se retomar o caminho que levou países tão ou mais pobres que o Brasil a se inscreverem na primeira turma do Boxe.
Será que Argentina, Colômbia e México têm a economia mais pujante que a brasileira? Porque as vitoriosas iniciativas que são praticadas pelo mundo afora não podem ser adaptadas aqui?
Enfim, fica a ideia para que os dirigentes e interessados sentem à mesa para que se possa realizar, pelo menos, um programa por mês com lutas entre profissionais em cada Estado que tenha Federação.
A força mexicana exibida em Águas Calientes no dia 3 de novembro.
Minimoscas – Luis "Flechita" Castillo (21-0-1) W10 Miguel "Joyita" Herrera (22-7-5)
Voltou muito bem da inatividade de um ano o vencedor. Triunfou diante de um valente opositor que vendeu caro a derrota. Na entrevista disse querer oportunidade de título mundial. Pode ser.
Essa foi a chamada pelea estelar de uma programação que atraiu cubano e argentina ex-campeã do mundo! A decisão unânime não foi anunciada pelo locutor de ringue, mas estava disponível no Boxrec. Irvin Sosa Torres 96-94 (o que marcaram os comentaristas Servílio de Oliveira da ESPN Brasil e Barbosa da ESPN Argentina); Francisco Javier Cárdenas 97-93 (o que anotei) e Pedro Huertas Morán 98-92.
Penas – Kevin Piedrahita (8-1) KO4 Pedro Hernández (11-2)
O vencedor é colombiano. Triunfou com golpes no corpo e apresentou muita intensidade para dobrar o boxeador da casa. Duas quedas, uma no terceiro e outra no quarto. A última evoluiu para o nocaute. Combate animado.
Médios ligeiros – José Miguel Borrego (20-4) KO2 Diego Pérez (13-9-2)
Borrego cercou a atingiu primeiro para um triunfo esperado.
Super leves – Karla Zamora (11-10-1) TKO5 Érica "Pantera" Farias (27-8)
Lamentável ocaso de uma ex-campeã mundial. Zamora é aquela que foi derrotada por Beatriz Ferreira na sua última luta. Depois de um assalto de estudos, a mexicana foi pressionando a argentina e aplicando castigo. Sem preparo físico adequado, Farias foi sendo alvo fixo e o árbitro resolveu acabar com as escaramuças no quinto tempo. Mesmo sem quedas.
Meio-médios – Roniel "La Leyenda" Iglesias (4-0) TKO5 Mauricio Gutiérrez (8-2)
Vitória impressionante do cubano que tem títulos na modalidade olímpica. Que noção de distância espetacular! Derrubou no primeiro capítulo, mas esteve diante de um bravo adversário que pouco pode fazer diante de enorme categoria de Iglesias. A esquina o preservou pois havia uma grande hemorragia nasal.
Se não tivesse 35 anos, escreveria que chegaria a embate por cinturão universal.
Imagem: Noticiero Altavoz