Anderson Dener no evento da Shuan Boxing
Jorge Luiz Tourinho
2 de maio de 2023
O pequeno número de promoções pugilísticas no Brasil faz com que sejam aceitas propostas para combater nos mais diversos países. Alguns com pouca tradição no cenário mundial. Muitos dos lutadores que praticamente se veem obrigados a lutar no exterior poderiam, se tivessem promotores locais trabalhando suas carreiras, se projetar por aqui. Quase todos os convites são para enfrentar prospectos amparados por grandes ou pequenas empresas que os manejam visando voos mais altos e, até mesmo, títulos mundiais.
O fato é que boxeadores profissionais querem lutar. Precisam boxear para levar o sustento para casa ou para complementar sua renda. Quando se olha o limite de 160 milhões de dólares alcançado por Floyd Mayweather em uma única disputa – contra Manny Pacquiao – pode-se ver claramente que o maior objetivo de um pugilista não é medalha olímpica.
A falta de oportunidades regularmente tende a empurrar para os eventos no exterior os atletas que militam nessa dura e exigente atividade. A maior parte dos enfrentamentos que os brasileiros têm pelo mundo afora os colocam como zebras. Poucos programas os contratam para pegar quem tenha cartel equivalente.
Assim foi que Anderson Dener apareceu na República Dominicana no evento da Shuan Boxing com transmissão pelo YouTube. Fui avisado pelo consagrado comentarista do Sportv, Daniel Fucs, também importante colunista do portal Globo Esporte com inúmeros trabalhos prestados ao Boxe como árbitro, juiz, dirigente e classificador.
Uma rápida análise no indispensável site BoxRec me fez ver que Dener entraria no ringue como azarão. Embora seu oponente Kenny De León tenha vencido diversos adversários pouco conhecidos, alguns com cartel negativo, sua percentagem de vitórias pela via do sono o colocou como franco favorito.
Não deu outra. De León foi encurtando e pegando e, no mesmo assalto inicial, Anderson beijou a lona. Respondeu à contagem de oito e foi castigado para que o mediador decretasse o nocaute técnico. De León foi para 16-0-1 e Dener para 6-3. O pouco que aconteceu mostrou o vencedor com boa linha. Bem conduzido, ou seja, com oponentes mais qualificados para testes mais reais, é possível que o vejamos em combates válidos por cinturões regionais. O brasileiro foi logo atingido e não exibiu muita coisa.
As preliminares que assisti seguem abaixo. Não esperei pela luta principal. Queria ver o Anderson Dener.
Super penas – Jan Paul Rivera (6-0) TKO6 Julio Florentino (2-7 ou 6-3).
Boa vitória de Rivera que promete. Dominou desde o começo e construiu o TKO. Florentino estava batido em pé após o knockdown no quinto round e não voltou para o sexto.
Meio-médios – Kermin Jimenez (1-0) TKO2 Miguel Polanco (0-2).
Precipitou-se a árbitro Ana Hernández. Enfim, dois novatos que terão muito o que mostrar.
Super leves – Heidan Martínez (9-0) KO1 Ecrán León (1-7).
Bastava ver os cartéis para saber o que ocorreria…
Médios – Marcos Osorio (11-0-1) KO1 Elvin De La Rosa (14-8).
O perdedor é uma espécie de testador de promessas. Foi esbordoado até cair e ouvir a contagem cheia.
122 libras – Wanel Alexander (3-0) Juan Alcántara (0-8).
Ocorreu um fato que só havia visto num filme europeu. Em curso ministrado pelo grande dirigente e jornalista Paulo Roberto Godinho simulamos numa ocasião isso. Um knockdown duplo levantou a galera, mas a mediadora Ana Hernández não sabia que deveria abrir a contagem para os dois guerreiros. Simplesmente, eles se levantaram e… continuaram a lutar.
Houve queda de um e de outro. No final, 57-55 (foi o que anotei) e dois 58-54.
Meio-médios – Carlos Siniesterra (9-0) KO3 Willy Morillo (5-15).
O vencedor deveria triunfar pela via rápida e o fez. Morillo tentou vender caro a derrota, mas não deu.
154 libras – Bryan Perez (4-0) W6 Julio De Jesus (27-6).
Entendi que o vencedor é um porto-riquenho promissor que veio para ser testado diante de um veterano. Encarou uma pedreira e teve contra si uma falta e outra a favor. No ver dos juízes e no meu, 58-54.
Leves – Dikember Rodríguez (9-0) TKO2 Juan Alberto García (9-13-1).
Uma outra promessa que a Shuan testou contra um exigente veterano. Deu a lógica. Uma queda e depois um castigo levaram à decisão acertada.
Penas – Vivian Rodríguez (3-0) W6 Gina Joseph (1-1-1).
Combate com pouquíssima lucidez e muita vontade e empenho. Os três juízes viram 59-55. Anotei 58-56. Acho que nenhuma delas irá longe, se não melhorarem muito.
Super-penas – Kaipo Gallegos (1-0) TKO4 Jairo Burgos (4-4).
Foi a surpresa da noite, em minha opinião! O vencedor é americano e foi contratado pela Shuan Boxing. Teve boa carreira no amadorismo ianque e deverá seguir lutando na República Dominicana até atingir um bom cartel. Dono de belíssima linha, técnica e poder de punch não será difícil voar mais alto. Burgos foi espancado até o árbitro José Garrido acabar com a festa.
Título FEDECARIBE 112 libras – Franklin De Paula (7-0) W10 Gilber González (18-5).
Animada peleja dominada pelo vencedor claramente. Parece cedo para amealhar cintos regionais, mas isso é problema dos empresários. Faltaram a ambos dinamite nos punhos. Decisão unânime com as papeletas 100-90 e 99-91 duas vezes. Essas coincidiram com a minha marcação.
Imagem: Tapology