Anderson, Galdino, Charlo e Inoue
Por Jorge Luiz Tourinho
20 de junho de 2021
Sábado de muito boxe pelo mundo afora. Precisamos nos preparar para voltar com a atividade pugilística no Brasil após a maldita pandemia. Abaixo, seguem algumas impressões de lutas e eventos que pude assistir.
Anderson
Conseguiu excelente vitória em solo mexicano. Ao contrário do que alguns disseram, tratou-se de luta. Não foi outro espetáculo quase circense mal denominado desafio. Foram oito assaltos de boxe que acabaram com o resultado de triunfo por pontos em decisão dividida do brasileiro sobre o ex-campeão mundial CMB dos médios Julio César Chávez Jr. Os juízes assim marcaram: 77-75 Chávez e dois vereditos 77-75 Spider.
Se alguém me disser que o filho da lenda não é mais aquele, direi que Silva não tem mais 27 anos, tem quarenta! O fato é que o agora considerado o maior do MMA poderia ter inscrito seu nome na nobre arte. Formado na escola de Muay Thai Chute Boxe de Curitiba, teria condições de migrar para o boxe. Talvez seja o único desses lutadores de Vale Tudo que possa vencer boxeadores ainda em atividade em combates reais. Embora esteja rico com os contratos dentro do MMA, Anderson também estaria com a conta bancária recheada se lutasse boxe.
Não consegui ver o cotejo na íntegra. As partes que assisti mostraram vantagem de um e de outro. O primeiro tempo para Julio, o segundo para Anderson, consegui marcar. A decisão dos juízes foi marcante porque, parece-me, eram todos aztecas. Pouco me importa se Chávez Jr. esteve em depressão e se preparou mal. O que passou para a história foi a vitória de Anderson Siva que foi para 2-1. O perdedor ficou com 52-6. Caminho aberto para o Aranha fazer outras lutas que espero sejam de verdade.
Galdino
Paulo Cesar Galdino lutou na Itália contra Mirko Geografo. Valeu o cinturão latino welter da Federação Mundial de Boxe (FIB). Atuação bem descontraída do brasileiro não foi suficiente para trazer a faixa. Embora derrotado por pontos em decisão unânime, Galdino deixou muito boa impressão e merece novas oportunidades no Velho Continente.
Seus melhores momentos foram quando partiu para a trocação mais franca. Talvez se houvesse trabalhado as saídas para os lados após golpear a diferença das pontuações poderia ser outra. As papeletas: dois jurados marcaram 97-93 (foi o que anotei) e um 96-94. Geografo foi para 17-1-1 e Galdino para 10-4.
Charlo
Esse é um craque que não quis se arriscar diante de um pegador. Apesar de lhe sobrarem condições, optou por construir a vitória round a round e manter seu título dos médios do Conselho Mundial de Boxe (CMB). Fiquei com a impressão que Jermall Charlo (32-0) poderia ter acabado com a disputa antes do tempo previsto. Provavelmente, a bomba recebida no quarto capítulo o tenha feito respeitar demais o nocauteador mexicano Juan Macias Montiel (22-5-2, 22 KO).
O domínio do norte-americano foi quase total. A postura estranha do desafiante ora ortodoxa ora canhota não o atrapalhou. O que realmente influiu para sua atuação mais cautelosa foram a capacidade anormal de aguentar pancada e o poder de punch de Montiel. A decisão foi: 119-109 (o que marcou o excelente comentarista Eduardo Ohata), 118-110 (o que marquei) e 120-108.
Bem, o que se pode esperar de Charlo é que enfrente Canelo, Golovkin ou Andrade. Para ganhar dinheiro bom.
Preliminares exibidas pela ESPN Knockout
Super galos - Angelo Leo (21-1) W10 Aaron Alameda (25-2)
Excelente combate entre dois grandes boxeadores. Leo já foi campeão mundial e Alameda disputou cinto universal. A trocação franca dos três assaltos iniciais favoreceram o mexicano Alameda. Leo passou a jogar e se movimentar mais e deram tudo para um grande confronto. A decisão que saiu foi majoritária: 96-94 (a marcação de Ohata), 98-92 e 95-95 (coincidiu com a minha).
Leves - Isaac "Pitbull" Cruz (22-1-1) W10 Francisco "El Bandido" Vargas (27-3-2)
Combate confuso com muito empenho mas pouca lucidez. Começou com um desnecessário desfile de fantasias. O boxe é o que leva e traz multidões. Pouco importa se os caras entram fantasiados de bandido e de cachorro. Cruz é mais um mexicano que adota o toma-lá-dá-cá como estratégia. Pega e aguenta. Construiu o triunfo que poderá levá-lo a alguma disputa de cinturão com golpes cruzados atirados sem nenhuma preparação. Vargas até tentou boxeá-lo mas não pode. Foram diversas bombas na linha da cintura. Houve uma queda no décimo tempo. Foi logo depois da volta para averiguação das condições do perdedor. O choque involuntário de cabeças poderia ter encerrado a luta. Os jurados viram: 97-92, 99-90 e 100-89. Ohata e eu marcamos 98-91.
Inoue
O excepcional japonês venceu outra vez com show de boxe. Impressiona barbaridade a forma quase natural como se movimenta e golpeia. Tratava-se de disputa de título mundial dos galos. O super campeonato da Associação Mundial de Boxe (AMB) e o da FIB. Um KD por soco no fígado no segundo capítulo e mais dois no terceiro abreviaram a contenda. Naoya Inoue (21-0) KO3 Michael Dasmarinas (30-3-1). Estavam em Las Vegas os também reis dos galos Nonito Donaire e John Casimero. Com quem sairá uma super luta?
Foto: Uol