As Lutas nas TVs Cariocas

02/01/2024

Paulo Godinho

27/12/2023

O final dos anos 50 mostrava a Televisão nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte buscando programações,... novidades. Os programas de prêmios em dinheiro começavam a surgir, e, em 1956, a VARIG patrocinou "O Céu é o Limite", que surgiu nas duas TV TUPY, de RJ e SP. No RJ, o apresentador era J. Silvestre, e em SP, Aurelio Campos, mas os esportes, agora mostrados ao vivo nas salas das familias, começavam a despertar muito interesse. Nas lutas, a TV Rio saíu na frente, por iniciativa de José Brasil Campio, que montou o TV Rio Ringue às noites de domingo, lá na sua sede, no final da Praia de Copacabana, Narrado por Luiz Mendes, comentado por Téti Alfonso e Renato Pacote e apresentado por Leo Batista. As lutas de catch também tiveram destaque na TV Rio, mas às tardes de sábado, narradas pelo escandaloso Raul Longras. Entre as Emissoras de Rádio, era flagrante a importância da Rádio Nacional, mas a Emissora Continental, "100% Esportiva e Informativa", do jornalista Rubens Berardo, sentiu que também poderia entrar para concorrência com a TV Rio (e coma TV Tupy, que logo começou a transmitir lutas de Boxe). A TV Continental escolheu o Vale Tudo, e entregou aos irmãos Carlos e Hélio Gracie a produção do Programa, que era narrado por Carlos Marcondes e comentado por Arildo Bernachi e Teixeira Heitzer, realizados na quadra embaixo das arquibancadas do Estádio do C. R. Flamengo, na Gávea. Esse era o panorama das lutas nas TVs cariocas no ano de 1960.

O programa O Céu é o Limite tornava seus candidatos verdadeiras celebridades, por divulgarem seus conhecimentos sobre seus assuntos, e pelos grandes prêmios em dinheiro que iam ganhando em suas caminhadas vitoriosas.

Eu estava no Boxe do Vasco, e por algumas razões me transferi para o Gremio Cassio Muniz, o grande patrocinador do Boxe no RJ da época. Eu me inscrevi como candidato n'O Céu é o Limite, e a minha condição de ser um praticante de Boxe, me deu status para o marketing de ter 21 anos e o meu assunto: Vida e Obras do escritor Aluisio Azevedo. Já entrei no programa com pompas e circunstâncias, e não decepcionei. Fiquei lá 5 meses respondendo certo, até que a TV Tupy resolveu encerrar o programa e eu levei cr$ 400.000,00 para casa, e o convite da TV Tupy/SP para ir responder em Sampa, me dando seis meses para estudar outro assunto. O Sr. Moacyr Lopes, Diretor Técnico da FMP me convidou para fazer um Curso de Juiz e Jurado na Federação, onde saí diplomado em 1960 e comecei direto atuando nas lutas do TV RIO Ringue.

Na Federação Metropolitana de Pugilismo (FMP), cada modalidade de luta tinha seu Diretor. Assim, Abel Magalhães era o Diretor do Judô; Arquimedes Castro, do Jiu-jitsu e do Vale-tudo, e quando Carlos e Hélio Gracie produziram o "Heróis do Ringue", o Arquimedes me convidou para fazer parte do quadro de árbitros e jurados daquele programa da TV Continental. Assim, eu atuei em lutas de grandes nomes da Academia Gracie (Av. Rio Branco, 158, ? andar), como João Alberto Barreto, Moacir Luzia Vale, Hélio Vigio, Genarino Piemontese, e outros. A família Gracie não colocava o Carlson nessas programações, deixando para João Alberto Barreto os adversários mais categorizados. Era incrível, João Alberto não dava um sôco, um pontapé, nenhum golpe traumático, Jiu-Jitsu puro. Meu pai, Alberto Godinho era um fan do João Alberto, e, quando me via me arrumando para sair para a TV Continental, me perguntava: "__ O João Alberto luta hoje?" Se positivo, papai me dizia: "__Se voce atuar na luta dele, não vai ter tempo de esquentar a cadeira." Há uns três anos atrás, Flávio Almendra me levou para uma homenagem que a Universidade Estácio de Sá faria ao Roberto Leitão (pai), ao João Alberto Barreto, ao Carlão Barreto e ao Bezouro (MMA).

Lá, um Diretor da Estácio me tirou do público e me instalou no palco, junto com os homenageados. Flávio me deu um tempo para falar, e preferi dizer algo sobre os homenageados que estavam ali ao meu lado àqueles universitários, algumas histórias do João Alberto, e a humildade desse notável lutador se fez sentir. Quando eu falei da admiração que o meu pai tinha por ele e a facilidade como o João ganhava seus combates, sem agredir ninguém, apenas "finalizando"; João me aparteou e disse: "__ Eles não sabiam Jiu-jitsu." Para explicar melhor o grande lutador da Academia Gracie, acrescentei, que o João tinha uma vasta cabeleira, que não se desmanchava nas lutas. João me aparteou outra vez e disse "___ Eu usava Gumex no cabelo." Gumex era um gel fixador da época. Foi uma noite espetacular grandes recordações, que Flávio Almendra dirigiu. Conseguindo juntar as gerações vitoriosas de Roberto Leitão e João Alberto Barreto, com a ala jovem do Carlão Barreto e do Bezouro.

Por 10 anos a TV Rio manteve o TV Rio Ringue no ar, divulgando notáveis do Boxe Brasileiro, como os "galos" Eder Jofre, Raimundo de Jesus e Waldomiro Pinto; Fernando Barreto, Carlos Monzon, Gregorio Peralta, Norberto Rezende, Celestino Pinto, Jorge Sacoman, e muitos outros.

Hoje, o Boxe tem sua Casa, nos fins de semana na ESPN, narradores de qualidade e os comentários de Servilio de Oliveira e Eduardo Ohata. Vida longa para o Boxe na ESPN.