Canelo Preciso e Dominante
Por Jorge Luiz Tourinho
Venceu o favorito na luta que se apresentou como equilibrada no papel. Foi um combate disputado com algumas alternâncias. O desfecho me surpreendeu porque não houve golpes que sugerissem o nocaute. Billy Joe Saunders (30-1) adotou estratégia que me pareceu correta. Manter-se à distância jabeando e atirando socos quando possível. Contudo, essa forma de combater exige de quem a use a aplicação de respostas aos ataques sofridos e contragolpes. Dar ao oponente o centro do ringue e lhe permitir o controle da peleja significa que, se ninguém socar, ele vencerá o assalto. Balançar a cabeça em sinal negativo como se dissesse que a carga recebida não o tenha afetado não muda nada. Os juízes não cairão nessa milonga.
Saúl Álvarez (56-1-2) mostrou-se, logo de cara, o dono do quadrilátero. Exibiu a postura de quem vai buscar o triunfo. Foi cercando e batendo quando o inglês ficou no seu raio de ação. Embora sem maiores perigos, ganhou os quatro primeiros tempos. No quinto, uma bela combinação de esquerda no corpo e na cabeça num contra-ataque deu o capítulo para Saunders. A atividade ainda não vista foi posta em prática para novo 10 a 9 no sexto tempo. Estaria aberto o caminho para virar a luta? Faltavam mais seis rounds que vencidos por pontos poderiam dar ao britânico a vitória.
O sétimo marcou a volta de Canelo mais ativo. Como se lembrasse da cultura de boxear mexicana, partiu para cima e acertou os melhores golpes. Esse mesmo quadro continuou no oitavo onde dois bons uppers no rosto levantaram a enorme torcida azteca. Mais dois assaltos para o excepcional Álvarez. A virada do combate já me parecia improvável.
Eis que o córner do europeu faz sinal de desistência por estar seu olho direito bombardeado. Já havia um inchaço logo abaixo dele. Fim de festa para uns e começo para outros. Não devemos criticar esse abandono pois só o boxeador sabe o que está sentindo e o que poderá sofrer. Os olhos são muito sensíveis. Numa das preliminares, o atleta quase perdeu uma luta ganha nas papeletas por ter recebido um golpe no olho.
O que acho que se deva analisar é a postura que deve ter um adversário de um craque de boxe como o Canelo. O script de fugir e contragolpear pode não estar levando à vitórias parciais. E daí, fazer o quê? Seguir adiante e contar com um punch de sorte? Buscar o infight ou a trocação insana? Tudo isso deverá estar treinado para ser aplicado. Mas, o que mais importa, é a atitude mental. O lutador tem que estar confiante naquilo que foi planejado e nas suas condições de vencer. Espero estar totalmente errado. Billy Joe se conformou em receber os 5 milhões de dólares que o Round13 disse ser a sua parte.
O ideal será o entendimento para que um dos três melhores médios da atualidade aceitem combater com o Canelo e sair do evento ricos. Gennady Golovkin, Jermall Charlo e Demetrius Andrade têm virtudes para outra super luta. Só espero que a Canelo Promotions não nos obrigue a assistir novamente péssimos grupos musicais e a Matchroom não apresente desfile de boxeadores. Voltemos ao boxe raiz!
Preliminares exibidas pela DAZN do AT&T Stadium em Arlington, EUA
Pesados - título Continental das Américas do CMB
Frank Sanchez (18-0) W6 (DT) Nagy Aguilera (21-11).
Fortes, grandes e lentos. Pensei que não chegaria ao segundo assalto. Porém, o cubano Sanchez se satisfez em cozinhar o galo e não correr riscos. Venceu todos os rounds até atingir o dominicano com um golpe na nuca. Aí veio a confusão. O golpe irregular foi visto e apontado pelo árbitro Ruben Perez que não desclassificou o boxeador de Eddie Hearn. Chamou as papeletas como se pudesse considerar o soco na nuca golpe involuntário... Os juízes e eu vimos 60-54. Pergunto: se fosse o homem do Sr. Hearn o que se mostrasse inabilitado para seguir, o que faria esse mediador?
Médios ligeiros - título Intercontinental AMB
Souleymane Cissokho (13-0) W10 Kieron Conway (16-2-1)
Triunfo claro do francês embora um dos juízes tenha visto outra coisa. Dois promissores boxeadores que fizeram uma luta muito boa. Cissokho foi medalha de bronze no Rio-2016 e tem excelente linha pugilística. Movediço, bate no corpo, toma a iniciativa. Talvez lhe falte um pouco mais de pegada. No meu ponto de vista, Conway só venceu o nono assalto quando um golpe atingiu o olho direito de Souleymane forçando-o a ajoelhar. De resto, foi superado. O lutador que não pega tem que ter muita ação ofensiva e boa defesa. Os jurados: 97-92 Conway; 96-93 e 95-4 Cissokho. Marquei 98-91 para o vencedor.
O detalhe estranho foi o título disputado. Na sua criação, os cinturões Intercontinentais serviam para fomentar o intercâmbio entre boxeadores de diferentes continentes. Não entendo um inglês e um francês o disputando.
Título OMB minimosca - Elwin Soto (19-1) TKO9 Katsunari Takayama (32-9)
O campeão Soto teve vantagem desde o começo por sua maior pegada. Tem uma característica que poderá levar a ter dificuldades contra adversários que também tenham dinamite nas mãos: não recua. O japonês se movimentou muito e bateu bastante mas só o vi vencer o quinto tempo. O nocaute técnico foi esquisito. Elwin acertou alguns golpes em sequência mas Takayama se movia, aparentemente, com consciência. Para minha surpresa o experiente árbitro Lawrence Cole encerrou as escaramuças para reclamações da equipe do perdedor. Para mim, precipitou-se. Não houve nenhuma queda.
Foto: The Independent