Coliseu Boxing Club

02/11/2022

Jorge Luiz Tourinho

Foto: @luizgasparfoto 

1 de novembro de 2022

Guarulhos, SP, se afirmou como a capital brasileira do Boxe. A noite de 29 de outubro, sábado, teve como palco no Vilarejo Bar uma memorável e talvez inédita jornada com disputa de quatro títulos brasileiros. De quebra, os médios ligeiros David Lourenço e José Conceição também disputaram o cinto Fedebol da WBA.

O evento foi transmitido pela Vem TV uma WEB TV que ainda não tem experiência na veiculação da Nobre Arte. Poderão melhorar mais. Basta assistirem os grandes programas que nos chegam quase todas as semanas. Infelizmente, os quatro vencedores protagonizaram verdadeiros monólogos de punhos, como diria o saudoso Newton Campos.

Cabe uma reflexão a respeito disso. O cinturão brasileiro valoriza a carreira do pugilista e o projeta para fora do país. Oferece, também, oportunidade de receber boa bolsa e o apresenta para o mundo. Assim sendo, vamos valorizar esse mesmo cinturão. O mínimo que se deve exigir de quem se dispõe a lutar por ele, como campeão ou desafiante, é se apresentar com condição física para jogar os dez assaltos. Não foi bom vermos lutadores desistindo e caindo por falta de combustível.

Algumas manifestações feitas no chat me fazem escrever outra observação. Não é crítica. A campeã Lila Furtado não tem adversárias do seu nível no Brasil. O mesmo penso que aconteça com o super mosca Andrés Gregório. Com a cotação do dólar americano batendo R$ 5,16 após a vitória de Lula nas eleições presidenciais, fica muito difícil para o Coliseu Center de Guarulhos trazer oponentes do mesmo nível deles. O jeito é movimentá-los com rivais que queiram ou aceitem a disputa.

Vamos às lutas que pude assistir.

Títulos CNB e Fedebol médio-ligeiro - David Lourenço (7-0) TKO8 José Conceição Nascimento (5-5).

Domínio total, na minha opinião, do campeão Lourenço. Conseguiu duas quedas, no segundo e no oitavo rounds. A última evoluiu para o nocaute técnico. Quando Brian Castaño venceu Patrick Teixeira e se tornou campeão mundial WBO dessa mesma divisão atirou mais de 1100 golpes nos doze tempos da peleja. Isso dá uma média de mais de 90 socos por capítulo!

A impressão que ficou, pela diferença física e técnica, foi que, se Lourenço atirasse 50 golpes em cada episódio, a contenda acabaria antes. Contentou-se em ir vencendo os assaltos. Talvez, quando estiver diante de adversário melhor preparado, seja necessário imprimir combate mais intenso. Inclusive não entendi porque David lutou como canhoto. Não ganhou nada com isso.

Zé Conceição, aos 42 anos, poderia passar a treinador ou dono de academia. Até atingiu seu oponente, mas não foram golpes perfurantes, expressão usada pelo locutor Matheus Pereira da ESPN. Sua energia foi acabando e não conseguiu terminar de pé.

Título super galo CNB - Lila Neuza Furtado (8-0) W10 Elaine "Pantera" Leal (0-1).

Na falta de boxeadoras, foi aceita como desafiante a lutadora de MMA que foi apenas uma brava guerreira. Furtado só teve problemas no round inicial. Leal partiu para a trocação e, na curta distância, aplicou alguns murros que lhe deram o 10-9. Depois do intervalo, Lila desfilou sua melhor linha e movimentação e passou a dominar claramente. Compensa a falta de dinamite nos punhos com intensidade e golpes conectados. Vitória incontestável, porém é cedo para se falar em título mundial.

Pantera tentou vencer até o sétimo tempo. A partir do oitavo, o gás escasseou e ela ligou o modo sobrevivência para ouvir as papeletas. Foram 100-90 e 99-91 (2). Essa última marcação foi a minha.

Título CNB super mosca - Andrés Gregório de Aragão (9-0) TKO6 Waldeci da Silva Ferreira (2-1).

O sinal congelou e comecei a ver quando já estava no terceiro capítulo. O locutor falou algumas vezes que Gregório tinha vencido todas as lutas por nocaute. Como o cotejo se mostrava, não foi difícil prever outro KO. Andrés dominava a distância e batia com vontade de decidir, como manda o Mestre Servílio de Oliveira. Exibiu excelente linha. Contudo, esse triunfo ainda não o qualifica para título mundial.

Waldeci não tinha estratégia nem preparo físico para impor, ou tentar, o jogo no infight para tirar a desvantagem da envergadura. Nada disso ocorreu e ele desistiu. Seria melhor ter feito isso no intervalo.

Título super leve CNB - Matheus da Silva Dias (5-1) KO1 Thiago "Pitbull" Xavier da Silva (0-1).

O cinturão estava sem dono e Xavier veio do Muay Thai para tentar a sorte. Matheus mostrou bela linha e movimentação nos poucos minutos que durou a contenda. Merece rivais que sejam muito mais do que foi o Pitbull. O nocaute, festejado por muitos espectadores, foi preocupante para mim. O perdedor caiu apagado. Felizmente, se recuperou ainda no canto.

Thiago atirou alguns golpes, mas pode ter entrado frio e, na primeira bomba, se perdeu. Seria conveniente passar a boxear 4 assaltos, depois 6, e assim por diante.

Super penas - Carlos Pedro De La Cruz (1-0) TKO1 Flávio Jun Kamiya (2-1).

Surpresa para mim. Kamiya começou meio lento, talvez frio. Pedro não tinha nada com isso e foi logo bombardeando. Houve um knockdown e depois o castigo que fez o árbitro Marcos dos Reis decretar o fim das escaramuças.

Cruzadores - Rodrigo Cavalheiro (2-1) W4 Adriel "Zico" Mateus da Silva (0-2).

Domínio total do vencedor. Farão bem a ambos mais e melhor preparo físico. A decisão só pode ter sido unânime, mas não foi ouvida por quem estava em casa. A rapaziada da Vem TV deixou passar. Marquei 40-36.

Leves - Queila Braga (1-0) W4 Diana Moraes (0-3).

Se não esteve perto de triunfar pela via do sono, Queila jamais flertou com a derrota. Foi dominante e exibiu boa linha. Também não pudemos ouvir as marcações dos juízes. Anotei 40-36.