Cubanos entram no profissionalismo de forma oficial
Fonte: Diário de Cuiabá Online - MT (Coluna de Eduardo Ohata)
Foto: Diário de Cuiabá
A participação de cubanos no Boxe profissional foi proibida após a implantação do regime comunista. Seu argumento mambembe: beneficiava exclusivamente empresários e não havia preocupação com o bem-estar dos pugilistas.
Dois de seus maiores ídolos, os tricampeões olímpicos Teófilo Stevenson e Félix Savón, que dominaram a categoria dos pesos pesados (hoje super pesados), respectivamente, nas décadas de 70 e 90, permaneceram toda a carreira no amadorismo. Um tipo de amadorismo marrom pois recebiam como funcionários de alguma repartição governamental. O mesmo que acontece hoje no Brasil com os atletas da chamada Seleção CBBoxe. No caso de Stevenson, não faltaram ofertas milionárias para que fizesse uma luta com o norte-americano campeão profissional Muhammad Ali sempre recusadas pelo alinhamento do grande Teófilo com o regime.
O card que marca esse retorno aconteceu na sexta (20) e teve transmissão para o Brasil pela ESPN4. Vimos verdadeiros massacres dos bi-campeões olímpicos Julio Cesar la Cruz e Roniel Iglesias. Dois valores muito acima da média que deverão, talvez ainda esse ano, conquistar um cinturão mundial.Parece que há um movimento para que possam ser inscritos nos Jogos Olímpicos e Mundiais IBA esses mesmos valores que agora atuarão como profissionais. Aqueles que se colocam, ou se colocarão, contra devem explicar porque podem ser aceitos lutadores que são profissionais "marrons".
"A participação de cubanos no Boxe profissional servirá como motivação às próximas gerações, beneficia economicamente o atleta e a Federação Cubana de Boxe que destinará sua parte do dinheiro ao desenvolvimento dos programas de Boxe", explicou à Folha de São Paulo Gerardo Saldivar, presidente da Golden Ring. "Os boxeadores receberão 80% das bolsas, os técnicos, 15%, e a equipe médica que acompanha o time receberá 5%."
A Golden Ring é uma empresa mexicana. Está previsto no contrato que Cuba será compensada financeiramente por meio de percentual sobre as "luvas" (bônus na assinatura de contratos) dos atletas, faturamento com direitos de transmissão dos eventos etc.
A compensação financeira mais robusta aos atletas por meio das bolsas do profissionalismo é vista como um incentivo para desmotivar novas deserções.
Nas últimas décadas, dezenas de boxeadores de ponta do país desertaram com destino, principalmente aos Estados Unidos ou à Europa. Até o Brasil foi destino do pesado Aurelio Toyo Perez. Dois desses destacados exemplos são Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, que tentaram fugir durante o Pan do Rio-2007, foram enviados de volta a Cuba, lograram êxito em desertar posteriormente e chegaram a ser campeões mundiais profissionais.
Ao menos uma entidade, o Conselho Mundial de Boxe, não vê com bons olhos a participação dos mesmos atletas em competições amadoras e profissionais. Seu presidente, Mauricio Sulaiman, já se manifestou contra, mas mudará de ideia se um grande promotor pressionar.
A mesma postura não é adotada pela Associação Mundial de Boxe. Permitiu a Hassan N''dam, que já era profissional participar da Rio-2016 (a Associação Internacional de Boxe permite a participação de profissionais em Jogos Olímpicos), pouco tempo depois entrar em seu ranking e lutar por um título mundial profissional.
No ano passado houve uma exibição, também promovida pela Golden Ring, no qual cubanos enfrentaram profissionais no México. Esse evento testou com sucesso o interesse na empreitada agora levada a efeito.Há poucos anos, os cubanos participaram, na equipe "Domadores de Cuba", da World Series of Boxing, extinta liga da AIBA que tentou fazer fortuna com eventos que reuniram estrelas AIBA em regras mistas amadoras e profissionais.
Campeões olímpicos ou mundiais da AIBA (hoje IBA) e jovens em ascensão têm, pela primeira vez desde 1962, permissão do governo de Cuba para voltar a competir no profissionalismo.