Daniel Dinamite Dubois é de Verdade

07/06/2021

Por Jorge Luiz Tourinho

6 de junho de 2021

Sim, eu também esperava a vitória do DDD. Aliás, gostaria de ter lido ou ouvido alguém que pensasse que Bogdan Dinu (20-3) fosse do mesmo nível que o excelente britânico. Mais um nessa divisão dos pesados. Mais um programa quase que totalmente desnivelado. Foi exibido pela ESPN Brasil na tarde de sábado (5 de junho) desde Telford, Reino Unido.

A luta final trouxe Dubois (16-1) para a incompreensível disputa de título interino regular da Associação Mundial de Boxe (AMB). Logo nos movimentos iniciais ficou claro que o pupilo de Frank Warren não levaria muito tempo para arrebentar o romeno radicado na Bulgária. Gastou apenas um minuto e vinte para achar a distância e bombardear. Dinu voltou para o segundo assalto com olhar de derrotado. Outra boa sequência finalizada com um direto de direita no queixo provocou a queda que evoluiu para o nocaute.

Bogdan é forte, alto e... lento. Nas categorias mais pesadas a velocidade na movimentação, esquiva e no atirar dos golpes é fundamental. Receber bombas de um rapaz fortíssimo sem condições de evitá-las é prenúncio de KO.

Parece-me que a AMB classificou o perdedor como quarto na sua relação de maio para justificar a luta com Dubois. O consagrado comentarista de TV, blogueiro e árbitro internacional, Daniel Fucs, já examinou brilhantemente a triste e ridícula situação existente na Associação sediada na Venezuela. Uma farta concessão de títulos. Quase todos sem nenhum sentido. Bastou pagar uma taxa e a Queensberry Promotions fez do grande DDD campeão interino blá blá blá.

Esse tipo de maluquice - Daniel Dubois é o quinto campeão pesado da referida entidade - é o que tem alimentado a volta do tele-catch agora como tele-boxe. O pior é que nós da imprensa nada podemos fazer além de mostrar o erro dessa postura. Daqui a pouco veremos crescer, na imprensa especializada, a ideia que o mais importante cinturão mundial é o da Revista Ring. Porque não tem conversa nem pagamento de taxa para homologação de título.

Preliminares exibidas

Penas - Adan Mohamed (2-0) W4 Luke Fash (2-60-2)

É isso mesmo. Sessenta derrotas! Concordo com os comentaristas ESPN Acelino Freitas e Servílio de Oliveira. Mohamed pode ter boa linha pugilística mas teria que ter vencido pela via do sono um oponente apenas interessado em não ser nocauteado. Foi a única luta que deixei com o áudio brasileiro. Depois das tentativas de dourar a pílula do circo, não resisti e passei para o som original. Infelizmente, há muita ilusão com esses "espetáculos" chamados erradamente de boxe. O árbitro-juiz e eu marcamos 40-36. Lembro que, no Reino Unido, existe a figura do scoring referee. Talvez por economia.

Galos - Liam Davies (9-0) TKO2 Stefan Slavchev (11-39-2)

Davies é o contratado do magnata Warren e passou no teste sem pestanejar. Foi cercando e esbordoando sem piedade. Dois knockdowns no primeiro round e mais dois no segundo fizeram o bom árbitro encerrar o que não deveria ter começado. Davies merece ser acompanhado.

Médios - Caoimhum Agyarko (9-0) TKO4 Ernesto Olvera (11-7-1)

Combate horroroso entre um pegador que não sabe caminhar e cercar e um brigador que sabe apanhar e bater. O vencedor é britânico de ascendência africana e é fortíssimo. Embora pobre de técnica, fez valer sua extraordinária condição física e venceu os três assaltos. Uma contusão no braço direito fez o mexicano abandonar no intervalo. Não sei se no Brasil já existe a decisão abandono.

Meio pesados - Tommy Fury (6-0) W4 Jordan Grant (2-1)

Foi a única luta equilibrada no ringue. Fury é irmão do Rei Cigano e dono de boa técnica além de ser muito forte. Grant mostrou uma movimentação nada ortodoxa, até mesmo desordenada, mas evitou cargas e golpeou com vontade. A pontuação que faço uso leva em conta os melhores socos aplicados no capítulo em julgamento. Não basta apenas a melhor técnica. Tommy ficou nos calcanhares no primeiro tempo e, na minha opinião, levou a pior no quarto. Portanto, anotei 38-38. O árbitro-juiz deu 40-36.

Médios - Nathan Heaney (12-0) KO3 Iliyan Markov (6-15-2)

Outra disputa sem sentido. Valeu pela conquista do nocaute. Um balaço no baço ou nas costelas acabou com a agonia do perdedor. Heaney tem qualidades mas precisamos vê-lo diante de um atleta de melhor nível.   

Foto: twitter.com/dynamitedubois/