Decepcionante programa da Queensberry em Birmingham
Por Jorge Luiz Tourinho
29 de agosto de 2021
Na década passada li, não lembro onde, que a empresa de Frank Warren tinha arrecadado mais de 350 milhões de libras no ano anterior. Claro que a pandemia fez o resultado da Queensberry Productions despencar. Mas dinheiro para fazer uma boa programação de Boxe ela tem. Mesmo porque a parceria com a TV britânica que leva o evento para o mundo alavanca a entrada de diversas empresas que pagam para ter suas marcas no ringue e no recinto.
Algumas coisas levam as jornadas a serem classificadas como boas ou nem tanto. A primeira delas é a equivalência nos combates. O matchmaker da Queensberry não se preocupou muito com isso. Apenas nas duas lutas que valeram títulos é que não houve a intenção de contratar adversários para que seus boxeadores vencessem. As outras quatro contendas exibidas pela Fox Sports foram massacres. Talvez desnecessários.
Outra coisa são as decisões. Não deve haver dúvidas quanto ao que é decidido pelos árbitros e juízes. Decisões controversas devem ser analisadas. O quadro de oficiais deve estar em constante experimentação com supervisão qualificada.
O capital ajuda muito a conseguir bons oponentes mas é preciso haver o desejo de trazê-los. Nesse ponto, os empresários americanos são diferentes. Eles contratam lutadores contra os quais seus pupilos são considerados favoritos mas terão de pelejar para triunfar. Ontem, 28 de agosto, vimos o programa da Utilita Arena de Birmingham, Inglaterra, sem nada a ressaltar.
Vamos comentar as pelejas que vieram para o Brasil.
Galos - Liam Davies (10-0) TKO2 Raymond Commey (19-12-1).
O vencedor mostrou qualidades mas é preciso vê-lo diante de alguém que tenha melhor nível. Inclusive suas últimas lutas foram, quase todas, contra oponentes com cartel negativo. Commey é um veterano que veio de Gana para fazer campanha no Reino Unido mas já está em franca decadência.
O primeiro assalto teve alguns estudos. No segundo, Davies acelerou e derrubou depois que Raymond bambeou. O mediador optou por decretar o nocaute técnico embora o perdedor tivesse respondido à contagem de oito... Talvez tenha pensado que o cotejo não iria longe.
Títulos britânico e da Comunidade britânica super leve.
Sam Maxwell (16-0) W12 Akeem Ennis-Brown (14-1).
Combate horroroso para valer cinturão do Reino Unido. Ambos mereceram perder sem que nenhum vencesse. Maxwell tem melhor postura mas é só. Diante de um adversário complicado por ter postura e movimentação não ortodoxa pouco exibiu. Faltou muito. Desde lucidez na iniciativa até a aplicação de golpes no corpo. Caminhou atrás de Akeem e recebeu diversas bombas.
Ennis-Brown se movimentou de forma desordenada mas foi quem aplicou a maior quantidade de socos. Uma cabeçada involuntária no nono assalto não foi suficiente para abreviar a agonia.
Alguns rounds foram de dificílima marcação mas é sempre bom escrever que não basta caminhar para a frente para vencer. O Boxe exige golpear e esquivar-se.
A decisão foi unânime com 116-114 (2) e 115-113. O comentarista Servílio de Oliveira e eu vimos a vitória de Ennis-Brown. Ele marcou 115-113 e eu 117-111.
Meio-pesados - Anthony Yarde (21-2) KO1 Alex Theran (23-6).
Não deu nem para aquecer. Pareceu-me que foram ganchos no fígado que provocaram as duas quedas do colombiano. A revolta do comentarista Servílio e do locutor Matheus Pinheiro me fizeram pesquisar mas nada encontrei sobre a possível "entregada" do perdedor. Realmente, o primeiro gancho pareceu pegar de raspão mas prefiro pensar que não houve fraude.
Yarde quer brigar por um cinto continental ou britânico. Theran não deverá ser contratado tão cedo.
Super leves - George Bance (2-0) W4 Matt Hall (2-62-2).
É isso mesmo. Hall perdeu sessenta e duas vezes! Limitou-se a terminar de pé porque já está contratado para fazer quatro assaltos na semana que vem. Poucas vezes tentou agredir. Cumpriu com resignação seu papel de saco de pancadas vivo.
Bance é um rapaz forte de 21 anos. Ao não conseguir abreviar a contenda mostrou que precisa evoluir muito para entrar no rol de promessas.
Combate lamentável num evento que vai para a TV mundial. O árbitro-juiz Christopher Dean, o comentarista Servílio e eu marcamos 40-36.
Médios - Nathan "Hitman" Heaney (13-0) KO5 Konstantin Alexandrov (10-49-4).
Outro atleta da Queensberry que foi colocado diante de saco de pancadas vivo. É fortíssimo mas mostrou pouca intensidade. A diferença de técnica entre ambos é abismal. Heaney não deverá chegar a lugar nenhum, a julgar pelo apresentado diante de um perdedor profissional.
Se Mr. Warren quiser poderão ser encontrados pesos médios com cartel semelhante ao do Hitman na Europa.
Título britânico super pena.
Anthony Cacace (19-1) W12 Lyon Woodstock (12-3).
Combate emotivo com muita movimentação. Cacace dominou mas teve que se empenhar a fundo para vencer. Provocou um knockdown no quarto tempo com belíssimo uppercat de direita. Tem um atributo que o destaca entre os melhores super penas do Reino Unido: a pegada.
Woodstock é um bom boxeador. Foi inferiorizado pela melhor apresentação de seu oponente. Mesmo assim, exigiu do vencedor com muito empenho e volume de golpes. Merece novas oportunidades.
A decisão unânime se deu com: 117-110 (2) e 117-111. Servílio anotou 119-108 e eu 118-109.