Estrada e McCaskill

14/03/2021

Por Jorge Luiz Tourinho


Vou começar pela classificação final da grande luta protagonizada por Juan Francisco Estrada e Román Chocolatito González na noite de sábado (13 de março). Embora concorde com a excelente dupla dos canais Disney, Eduardo Ohata e Hamílton Ribeiro, que assistimos um lutaço, não a apontaria como luta do ano. Ou candidata a tal. Foi, sem dúvida, a mais eletrizante que vi em 2021. Mas, para ser justo, devo registrar que o boxe não é só bater. A defesa é virtude indispensável aos grandes boxeadores.

O combate que unificou os títulos dos super moscas da Associação Mundial de Boxe (AMB) e do Conselho Mundial de Boxe (CMB) trouxe para uma revanche os extraordinários campeões Estrada e González. Desde o segundo assalto trocaram golpes de forma quase insana. Deram quase 1200 socos cada um! Em um momento da transmissão, o locutor Ribeiro falou algo como: "Não tem defesa, é só ataque, Ohata.". Resumiu brilhantemente. Apenas nos capítulos de número 1 e 11 o mexicano Estrada girou e buscou a distância vencendo-os claramente. No segundo, Chocolatito o atingiu fazendo-o retroceder para também triunfar por 10-9. Todos os outros tempos podem ter análises diferentes da que tiveram os juízes em Dallas, EUA. As papeletas: 117-111 e 115-113 para Estrada e 115-113 para González (foi o que apontou o comentarista Ohata). Marquei 114-114.

O que me pergunto até agora é porque lutadores que tem velocidade e esmerada técnica não procuraram um caminho que envolvesse a própria preservação. Para o exigente público que paga o pay-per-view esse processo de combate que prende a atenção e deixa a decisão em suspenso até o gongo final é muito valorizado. De fato, ambos os contendores buscaram a definição até o fim abdicando do bater-e-cair-fora.

Dois grandes campeões que deverão ir para o Boxe Hall da Fama quando pendurarem as luvas. Estrada vem disputando títulos desde 2012 quando perdeu para o mesmo Chocolatito. Foi para 42-3. O ídolo nicaraguense foi para 50-3 e desde 2008 disputa cinturões mundiais. Teve a posse de faixas em quatro categorias diferentes! Espero que tenham recebido uma polpuda e merecida bolsa pelo espetáculo que será lembrado por muito tempo.

A semifinal foi a disputa dos cintos meio médios da AMB, CMB, FIB, OMB e OIB das mulheres. Muito comentada pela imprensa especializada, foi uma decepção. Jessica McCaskill (10-2) manteve todos os títulos e se mostrou como uma campeã surpreendente pela pobreza de técnica. Triunfou com o mesmo jeito de dar a passada a jogar um golpe curvo. Às vezes atirava dois. Quer vencê-la? Dê um passo para trás ou apare seus murros e volte batendo. A ex-primeira dama do pugilismo, Cecilia Braekhus (36-2), mostrou que já está em franca decadência. Se não consegue se esquivar de golpes sem preparação e telegrafados, talvez seja hora de dar um passo para o lado. Marquei 96-93 para a campeã e fico devendo as papeletas.

Outras preliminares.

Penas - Raymond Ford (8-0-1) D8 Aaron Perez (10-0-1). Dois guerreiros. Ford era o cara da Matchroom e não passou no teste. O apenas batedor e valente Perez o complicou e quase venceu mesmo com movimentação defeituosa e pouca pegada. O empate veio com: 78-74 para Perez, 77-75 para Ford e 76-76 (foi o que marquei). Eduardo Ohata apontou 77-75 para Perez.

Médios - Austin Williams (8-0) W8 Denis Douglin (22-8). Dessa vez triunfou o boxeador da casa. Pela primeira vez pude ver um atleta ser orientado pela própria mãe! O perdedor Douglin se auto-intitulou o Filho da Mamãe mas carece de melhor preparação. Na luta: fez careta e não assustou; mostrou a língua e não desestabilizou; bateu no Break e foi advertido; golpeou na nuca e foi novamente advertido; foi para o tudo ou nada e bambeou. Uma figuraça! Williams terá que fazer outras lutas de oito assaltos.

Título AMB mosca ligeiro - Hiroto Kyoguchi (15-0) TKO5 Axel Aragón Vega (14-4-1). Interessante combate. O japonês é muito bom lutador. O jovem mexicano Vega de apenas 20 anos mostrou qualidades diante de um oponente superior. Sofreu uma séria contusão na mão direita que fez o árbitro acabar com as escaramuças.

Médios - Souleymane Cissokho (12-0) TKO6 Daniel Echeverría (21-11). Esse francês passou fácil no teste. O dono da empresa apareceu como papagaio de pirata porque Cissokho deverá ir longe. Bombardeou desde o início. O mexicano foi bravo e resistente mas acertou o mediador. O castigo estava sendo demasiado e a queda final poderia ocorrer a qualquer momento.  


Foto: https://www.ringtv.com/618938-fight-picks-juan-francisco-estrada-roman-gonzalez-ii/