Exclusão do Boxe da Olimpíada por corrupção preocupa
Motivada pelas medalhas olímpicas recentes, a seleção brasileira participa do Mundial masculino da AIBA. Belgrado (Sérvia) receberá 650 pugilistas de 104 países. O Brasil conta com dez pugilistas, três com experiência em Tóquio: Abner Teixeira, bronze nos 91kg, Keno Marley, eliminado nas quartas, e Wanderson Oliveira, que chega favorito ao ouro. Hebert Conceição, campeão olímpico, lesionado não viajou.
O time que embarcou para a Servia tem o padrão da última Olimpíada: grupo jovem com alguma experiência internacional e que ainda tem condições de encarar mais um ou dois ciclos olímpicos. Apesar da boa expectativa, há a preocupação com a possível suspensão do esporte do programa olímpico.
Uma investigação divulgada no começo do mês chegou à conclusão que houve corrupção nas lutas da Rio-2016 e sinais do mesmo em Londres-2012. O canadense Richard McLaren, especialista em legislação esportiva, apurou que 11 combates no Rio foram manipulados. McLaren ainda definiu os bastidores da AIBA como um espaço dominado por uma "cultura de medo, intimidação e obediência".
No mês passado, Chistophe De Kepper, diretor-geral do Comitê Olímpico Internacional (COI), já havia explicitado a ameaça de corte do Boxe da Olimpíada caso a Associação Internacional de Boxe (AIBA) não realizasse reformas necessárias - eleições para a presidência e diretoria foram convocadas.
Com o principal torneio fora da Olimpíada ocorrendo em meio à polêmica, a AIBA implantou duas novidades neste Mundial. A primeira é a remuneração em dinheiro, algo inédito na competição, com 100 mil dólares aos medalhistas de ouro, 50 mil pela prata e 25 mil pelo bronze.
Além disso, foram colocados de lado as tradicionais luvas vermelhas e azuis. A partir de agora, todos irão utilizar as brancas, para "simbolizar um novo começo, justiça e transparência". Em Tóquio-2020, a modalidade foi gerida por uma força-tarefa do COI.
Três brasileiros foram mencionados no inquérito: Jones Kennedy do Rosário e Marcela Patrícia, juízes, e Luiz Boselli, ex-presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), mas não foram relacionados a nenhuma irregularidade.
- A gente não tem sido afetado. O que nos preocupa é a possibilidade do Boxe sair do projeto olímpico. Nós recebemos verbas públicas por isso. Como uma pessoa que vive a modalidade há mais de 20 anos, tenho preocupação. E é uma realidade, o COI já ameaçou mais de uma vez. Nos preparamos como se isso não acontecesse, mas é preocupante - diz o técnico da seleção, Mateus Alves.
O presidente da CBBoxe, Marcos Cândido Brito, tentou tranquilizar: - A CBBoxe está apreensiva, como todas as federações do mundo estão. Os critérios objetivos apontados para regularizar me parecem um pouco fora da curva. Talvez o COI esteja sendo um pouquinho intransigente ou a AIBA não esteja fazendo a contento o que deve ser feito. O que posso afirmar é que não acredito de forma nenhuma que o Boxe fique de fora da Olimpíada.
Brito vislumbra um 2022 com ainda mais holofotes ao esporte: - Já estamos estruturando um campeonato para ser realizado entre maio e junho, que deve envolver o Brasil e mais quatro países. Para o segundo semestre, queremos desafios internacionais com alguns países vizinhos ou até outros. Torneios de um dia competição, trazendo seleções.
Em Belgrado, a esperança de medalha é Wanderson, que subiu de categoria: agora está na 67kg. Abner também vai como um dos favoritos ao ouro em sua categoria.- Ele não parou de treinar depois de Tóquio. Como ele não medalhou, não teve aquela festa, não teve comemoração - conta Mateus.
- Estamos lutando contra o relógio. Para um boxeador chegar em forma, leva, no mínimo, 90 dias. Mas, para perder, bastam sete - diz Mateus, citando Abner como exemplo. - Como ele foi medalhista olímpico, pós-Tóquio, ele teve um calendário muito complicado para treinamento, por conta do circuito de imprensa. Acabou não se preparando bem para o Mundial Militar mês passado, foi sem treinar e levou um nocaute técnico no primeiro round.
Fonte: O Globo Online - RJ