Haney e Donaire Venceram

01/06/2021

Por Jorge Luiz Tourinho

30 de maio de 2021

Quase fui convencido pelo empresário Eddie Hearn, CEO da Matchroom Boxing, que a disputa de título dos leves do Conselho Mundial de Boxe (CMB) entre Devin Haney (26-0) e Jorge Linares (47-6) já estava definida antes de começar. Que seria a ocasião para ser colocado mais um tijolo no panteão de Melhor Peso Leve do Universo.

O inconveniente magnata do boxe chegou, inclusive, a citar os nomes dos destacados lutadores dessa divisão que seriam vencidos pelo seu pupilo. Lopez, Davis, Lomachenko e Garcia. "Um de cada vez.", disse com ares professorais. Nada mais indicador que o jovem norte-americano (tem 21 anos) atropelaria o desafiante nipo-venezuelano.

O combate foi muito bom. Haney realmente tem um potencial enorme. Forte, veloz e dono de pegada. Dominou os três primeiros assaltos da luta final do programa exibido pelo DAZN diretamente de Las Vegas. Embora perdendo esses capítulos, Linares também retrucou mostrando-se um oponente à altura do cinturão do CMB.

Seu córner foi claro. Ele precisava impor pressão e golpear também com a direita. Com mais atividade, o vi ganhar por 10-9 os quarto e quinto tempos. Um pouco incomodado, talvez, com o trabalhoso caminho para a manutenção do cinto, Devin jogou golpes com o cotovelo e o antebraço. Mesmo com dificuldades, triunfou parcialmente do sexto até o nono rounds.

A coisa parecia se encaminhar para mais uma vitória por larga margem quando no final do décimo período um direto de direita pouco antes do gongo soar fez o campeão voltar trôpego para a sua esquina. Incrível esperança para a numerosa torcida de Linares. Somente o KO ou quedas poderiam virar o confronto.

Visivelmente preocupado, Haney passou todo o décimo-primeiro assalto se agarrando e impedindo as ações de um adversário animado e ativo. É de se estranhar, pelo menos foi essa a minha impressão, que o árbitro Russell Mora não tenha marcado falta contra o boxeador da casa. Foram clinches acintosos.

No derradeiro tempo, novos clinches mas com alguns golpes para afastar a possibilidade de ser derrubado. Para quem pensava em unificações, foi um prato feito para reflexões. Um pouco mais de humildade e menos de arrogância farão bem a Haney porque qualidades não lhe faltam. Só que, no mundo das lutas, não há vitórias garantidas. Um bom soco pode mudar tudo. Foi o que quase ocorreu no Hotel Mandalay Bay na noite de sábado 29 de maio.

Papeletas: dois juízes viram 116-112 e o outro 115-113 que foi o que marquei.

Preliminares exibidas pela WEB.

Meio pesados) Khalil Coe (1-0) KO2 Nathaniel Tadd (2-5).

Coe foi campeão amador dos Estados Unidos e esbanjou categoria diante de um oponente apenas esforçado. Sabia que lhe cabia, em troca da bolsa recebida, fazer o papel de saco de pancadas vivo. É o tipo de triunfo que nada soma na carreira de quem se destacou no amadorismo.

Eliminatória FIB super penas) Azinga Fuzile (15-1) TKO7 Martin Ward (24-2-2).

A ideia do espalhafatoso Hearn era levar Ward a disputar o cinturão da FIB. Foi lá, pediu a chance e pagou a taxa. O combate saiu com um lutador que vinha de derrota na última luta. O curioso é que, se houvesse um esporte só de esquivas, Fuzile seria campeão indiscutível. Quando precisou golpear acabou em desvantagem. No quarto tempo, um trança-pé de destro com canhoto foi aproveitado pelo esgorregadio sul-africano com um gancho de direita para ganhar um knockdown. A queda deu segurança para Fuzile e provocou certo atropelo no jogo do britânico. Resultado: combinações certeiras no sexto para outra queda no sétimo que evoluiu para o nocaute técnico.

Título NABO dos médios) Jason Quigley (19-1) W10 Shane Mosley Jr. (17-4).

Muito bom cotejo. Dois boxeadores que buscaram com tudo que dispunham. Houve alternativas embora Mosley tenha mais dinamite nos punhos. O veredito foi: 95-95 (foi o que marquei), 97-93 e 96-94.

Título CMB super leve feminino) Chantelle Cameron (14-0) TKO5 Melissa Hernandez (23-7-4)

Não me perguntem como a Hernandez pode ser guindada à condição de desafiante ao título do Conselho. Foi espancada desde a campainha inicial até a inexplicável, pelo menos para mim, decisão do mediador Celestino Ruiz. A perdedora já havia sido derrubada no assalto anterior - o quarto - mas vinha se movimentando e respondendo alguma coisa. A paralização foi precipitada.

Nonito Donaire voltou a ser campeão dos galos!

Dessa vez pelo CMB. Mostrou porque era o primeiro do ranking da entidade sediada no México. Experiente e cerebral, além de dispor de pegada. Foi se adaptando à movimentação do então campeão Nordine Oubaali (17-1) para derrubar duas vezes no terceiro round e a outra no quarto. Embora a segunda queda tenha sido marcada erradamente, o francês estava sentido e o final era esperado. Na minha visão, o golpe de Nonito entrou depois do gongo. Não poderia haver contagem. Porém, não foi isso que atrapalhou o resultado merecido. Donaire foi para 41-6.