Nonito Donaire destroçou desafiante em noitada que merecia mais público
Jorge Luiz Tourinho
17 de dezembro de 2021
O grande campeão dos galos do Conselho Mundial de Boxe (CMB), Nonito Donaire (42-6), deu uma verdadeira aula de Boxe ao seu desafiante, o também filipino Reymart Gaballo (24-1). O nocaute produzido no quarto assalto por gancho no fígado depois de haver dominado amplamente o cotejo não deixa ver as qualidades do então invicto Gaballo. O primeiro desafiante mostrou muito respeito por um boxeador que é o seu ídolo mas buscou com as armas que dispunha a vitória.
Muito feliz - outra vez mais - foi o não menos grande comentarista da ESPN Brasil, Eduardo Ohata. Profetizou que Donaire será indicado e induzido ao Hall da Fama na primeira oportunidade. Deve acontecer quatro anos após pendurar as luvas. Concordo com o ex-peso mosca amador e torço para que isso aconteça. Nonito merece.
Como merecia mais público o excelente evento do Premier Boxing Champions (PBC) na cidade de Carson, Califórnia. Talvez por estar recheado de pugilistas asiáticos o programa deve ter ativado o preconceito racial existente por lá. O fato é houve um festival de combates muito bons. Comprovou que não é necessário fazer disputas de título que pouco ou quase nada valem para apresentar uma jornada memorável.
Pela qualidade fora de série do também campeão mundial galo Naoya Inoue (22-0) a trajetória de Donaire fica meio ofuscada. O fato de já ter perdido para o excepcional japonês também pesa. A revanche entre eles poderá sair se houver muito dinheiro na jogada. Contudo, a PBC não me parece muito inclinada a jogar o veterano Nonito no ringue com o Monstro. Uma empreitada na qual ele entraria sem nenhum favoritismo. Talvez mais uma ou duas defesas de cinturão para a montagem de uma academia nos EUA e virar treinador. Ou então fiscalizar a natureza. Está rico.
Preliminares que pude assistir:
Super galos - Marlon Tapales (35-3) TKO2 Hiroaki Tshigawara (22-3-2)
Pareciam dois mexicanos novatos. Partiram para o toma-lá-dá-cá insano. O filipino é um animal batendo e apanhando. Resultado: duas quedas no primeiro round e outra no segundo. Agiu muito bem o árbitro ao parar a luta. Ver o japonês se levantar e correr de um córner para outro segurando a última corda o convenceu que não tinha condições de seguir.
Depois dessa atuação, o PBC deverá trabalhar para que Tapales dispute um cinto universal. É certo que haverá a trocação franca que muitos querem e pagam para ver.
Super leves - Brandun Lee (22-0) KO7 Juan Heraldez (16-2-1)
Com apenas 22 anos, o vencedor me impressionou demais. Longilíneo, trabalha bem as combinações e se movimenta e golpeia com velocidade. Dominou completamente um duro oponente que não conseguiu vantagem em nenhum dos tempos pontuados. Fatalmente, o PBC irá programá-lo com intenção de buscar faixa mundial.
Meio-médios - Cody Crowley (20-0) W10 Kudratilo Abdukakhorov (18-1)
O perdedor era o número um do ranking da Federação Internacional de Boxe (FIB) e esperava chance contra Terence Crawford. Crowley não se impressionou e partiu para cima. Tomou o centro do ringue, cercou e meteu as mãos com más intenções. Num contragolpe sofreu um knockdown que só fez aumentar seu desejo de abreviar o combate.
Abdukakhorov é bom boxeador mas não tem pegada. Precisa atirar golpes além de se mover. Se não atingir o oponente, perde o assalto.
O vencedor estava mordido porque o cazaque teria dito que enfrentá-lo - um canhoto - seria uma boa preparação para Crawford. Talvez não conhecesse o norte-americano...
A decisão foi unânime. Entendi que os escores foram: 95-93, 97-92 e 98-91 (o que marcou Ohata). Pontuei 98-92 para Cody.