Saber porque perdeu

Por Jorge Luiz Tourinho

Aprender com os próprios erros é coisa corriqueira dentro do boxe. Dentro do combate o lutador evita determinados movimentos e combinações que não deram certo e, algumas vezes, muda seu plano de luta. Sobretudo quando atingido. Isso também ocorre nos treinamentos quando seus parceiros de luvas e treinadores fazem ver outro caminho a seguir.

Alguns disseram que Adriana Araújo não poderia deixar escapar a oportunidade de disputa de título mundial. Seria a maior bolsa que ela já recebeu. Embora o Brasil se encontre afastado das grandes promoções pugilísticas, talvez seja prudente que boxeadores desse nível não aceitem lutar se acharem que não é o momento.

Fiquei otimista a respeito do cotejo levado em Londres no dia 4 de outubro ao ler as declarações atribuídas à brasileira. Dizia que se veria na hora da luta se ela (a também desafiante Chantelle Cameron) era mesmo a favorita. Realmente era, por uma simples análise dos cartéis. Nesse ponto vemos a importância dos sítios BoxRec e BoxRanking, Qualquer empresário e treinador poderá conferir quem é o - ou a - oponente, com quem boxeou e a quem venceu.

Contudo, após a derrota na balança, fiquei apreensivo quanto às reais chances da medalhista olímpica baiana. Passou dois quilos e pouco do limite e não seria a campeã se triunfasse. Não sei se esse fato, aliado à provável dificuldade de preparação por causa da pandemia, abalou a então invicta Adriana. O fato é que ela se apresentou lenta e previsível. Perdeu todos os dez assaltos mesmo tendo tomado conta do centro do quadrilátero.

Não sei quem estava na sua esquina nem o que disse a ela depois do sexto capítulo. Cameron já a havia esmurrado sem que a brasileira mostrasse qualquer sinal de abalo. Ora, se a adversária não pega a ponto de nocautear e Adriana precisava de queda para virar a luta, o único rumo a seguir é o toma-lá-dá-cá também chamado de tudo ou nada. Sair vencedora sem o cinturão abriria espaço para que Adriana tivesse outra chance mundialista. Mas o que aconteceu foi a repetição dos rounds anteriores.

A carreira segue, agora com 6-1, mas a derrota com aparente conformismo deixou uma interrogação no ar: que aconteceu com Araújo? Não era hora para essa luta? Não houve tempo adequado para se preparar para a inglesa? A dieta e os treinos aeróbicos não foram acompanhados? O estado mental parecia bom. Estava mesmo? Havia confiança?

Atletas desse patamar tem equipes. Obviamente irão ver e rever o combate para sacar conclusões e colocá-las em prática. Adriana pode e merece disputar outro título mundial quando estiver em condições para isso. De qualquer forma, ninguém melhor que a/o pugilista para examinar o video tape e recordar o que passou para saber porque perdeu.

Efemérides: 11 de outubro

1965 - Lissone, Itália

penas - José Caetano dos Santos (5-17-5) L Lino Mastellaro (23-7-2)

1968 - San Juan, Argentina

Moisés Barbosa (4-12-4) KOby4 Victor Federico Echegaray (6-0-2)

1969 - Luna Park, Buenos Aires, Argentina

título mundial WBA dos super penas

João Henrique (27-0-1) L15 Nicolino Locche (94-2-14)

Os perdedores são os brasileiros. João Henrique da Silva, baiano de Juazeiro, perdeu quatro vezes ao longo da carreira. Todas por títulos mundiais. Nesta ocasião foi derrotado pelo extraordinário campeão Locche, O Intocável. Pelo cartel apresentado antes da luta poderemos ver porque ele se tornou uma referência universal.