Sonhos acabados por craques
Jorge Luiz Tourinho
23 de Abril de 2023
Quase sempre os empresários aceitam oportunidades para a disputa de títulos mundiais ou para encaixar seus pupilos em programas importantes. Não é uma crítica. O negócio Boxe faz com que se mire nas bolsas a serem pagas e recebidas. De preferência, polpudas.
Foi o caso de Yamaguchi Falcão (24-2-1). Tinha praticamente acertada uma luta com Padraig McCrory (16-0) na Irlanda ou sabe-se lá aonde. Quando se aproximou a data na qual David Morrell Jr (9-0) defenderia seu cinto regular da AMB, o brasileiro foi comunicado e virou o boxeador reserva para se manter a disputa do cinturão dos super médios. Segundo a ESPN Brasil, passou de reserva a substituto quinze dias antes do sábado 22 de abril. O africano radicado nos EUA, Sena Agbeko (27-2), que seria o desafiante de Morrell Jr, foi impedido por algum motivo.
A chance tão esperada de tentar sagrar-se campeão mundial chegou. A bolsa também deve ter sido boa, mas o que mais importava era a glória. Bastava ter e adotar estratégia para derrotar o campeão regular AMB e esperar por Canelo. O que fazer para triunfar diante de Morrell? O único adversário que ouviu a decisão dos juízes se moveu incessantemente e buscou atingir o cubano nos contragolpes. Não foi o suficiente para vencer. Seria a briga franca no infight o caminho?
Nada disso foi feito pelo brasileiro na noite do evento do Premier Boxing Champions (PBC) na T-Mobile Arena em Las Vegas. Lento, quase sem movimentação, e com a guarda toda vazada foi presa fácil para o craque agora vivendo em Mineápolis (EUA). Duas quedas no primeiro assalto decidiram o cotejo. A segunda evoluiu para o nocaute. Yamaguchi saiu do ringue andando. Havia preocupação na transmissão de Hugo Botelho e Eduardo Ohata e as TV americanas não mostram o boxeador caído na lona.
Morrell Jr se afirmou como possível futuro oponente caso Canelo Álvarez vença o Gorilla Ryder. Ou mesmo para um tira-teima com David Benavidez para ver quem irá buscar o título unificado. Dois confrontos que farão do jovem cubano outro boxeador rico. Merecidamente.
Yamaguchi terá que recomeçar a trilha para chegar ao topo. Ou vai amassando tomates ou terá que enfrentar algum lutador entre os top-50 do indispensável site BoxRec. Difícil mas não impossível.
Gervonta Davis KO7 Ryan Garcia
Outro craque venceu e adiou o sonho que Garcia tinha de se tornar a face do Boxe americano. Sonhar e ter objetivos é bom, mas manter os pés no chão é fundamental. Ryan Garcia (23-1) contrariou a visão da Golden Boy Promotions e fez valer seu desejo de pegar o excepcional Gervonta Davis (29-0). A equipe de Davis obrigou que a luta fosse entre os leves – Garcia vinha lutando como super leve. Tudo aceito para uma peleja explosiva e lucrativa, mas sem título em jogo. O dos leves da AMB que era de Gervonta não apareceu…
Oscar De La Hoya, o CEO da Golden Boy, era de opinião que não seria hora de pegar Davis. A família Garcia o fez aceitar o desejo do King Ryan e o evento se formou. Milionário e midiático. A pergunta respondida nas entrevistas era sobre ter chaves para vencer o sólido Gervonta. O falastrão Garcia deixou a impressão que as tinha.
Nos primeiros dois assaltos adotou a tática que Isaac Cruz utilizou contra o mesmo Tank Davis. Pressionar e buscar o corpo a corpo. Estava dando certo até que uma bomba levou Garcia à lona. A partir do terceiro, Gervonta foi tomando conta do quadrilátero com maestria, sem pressa, respeitando um adversário que tem poder nas mãos.
No sétimo episódio um gancho de esquerda nas costelas provocou a queda e o nocaute. De quebra, colocou Davis como um dos nomes mais badalados da cena pugilística mundial. O que pode acontecer, se os empresários não atrapalharem, é uma super luta com Shakur Stevenson (20-0). Garcia poderá voltar para os super leves e tentar alguma faixa de relevância. Não será fácil, mas ele dispõe de atributos que o colocam como possível campeão dos 63,500 Kg.
Preliminares exibidas pela ESPN
Médios – Elijah Garcia (15-0) W10 Kevin Salgado (15-2-1)
O vencedor está sendo levado para voos altos. Tem apenas 19 anos! Está nos rankings WBA e WBC como décimo primeiro e é o décimo quinto da IBF entre os médios. Foi colocado diante de um brigador que lhe exigiu bastante. Contudo, é cedo para título mundial.
A decisão unânime se deu com as papeletas 95-94 e 97-92 (2). As últimas coincidiram com minha marcação. O excelente comentarista Ohata anotou 96-93.
Super médios – Baktemir Melikuziev (12-1) W10 Gabriel Rosado (26-17-1)
Revanche decidida sob vaias. Melikuziev havia perdido por nocaute para o mesmo Rosado e não se arriscou dessa vez. Foi levando em banho maria, fazendo o necessário para fazer 10-9. Por ser o número 12 da WBA se esperava bem mais dele. Pelo menos iniciativa para abreviar o confronto contra um oponente visivelmente inferiorizado.
Rosado está fadado a ser contratado para testar pugilistas em ascensão. Nada mal, mas nada bem.
Os três juízes viram 99-91. Marquei 97-93 e perdi a anotação de Eduardo Ohata. Perdão.
Imagem: NY Fights