Terence Crawford é mais que craque, é um gênio
Jorge Luiz Tourinho
30 de julho de 2023
Muitos o consideraram favorito. O extraordinário comentarista ESPN Eduardo Ohata e eu classificamos a Luta da Década como 50-50. A forma como Terence "Bud" Crawford (40-0) demoliu Errol Spence Jr. (28-1) me convenceu estarmos diante de um gênio do Boxe, mais do que craque.
Depois de um assalto de avaliação, o que fez nos combates anteriores que pude assistir, Crawford passou a dominar de forma categórica e impressionante. Não foi Spence que não produziu. Foi Terence quem não o deixou fazer quase nada. A impressão que deu foi que ele adivinhava os movimentos do grande adversário e se antecipava.
Derrubou o bravo oponente no segundo e no sétimo rounds com ganchos de direita atirados nos momentos em que Errol jogou o direto de esquerda. A precisão do agora campeão unificado dos meio-médios fazia prever-se que o cotejo não chegaria na distância de 12. A partir do quarto capítulo a superioridade do nascido em Omaha era flagrante. Houve ainda um segundo knockdown no sétimo tempo no qual o gongo foi salvador de Spence.
Sabedor que tinha que buscar o nocaute, o então dono dos cinturões WBA, WBC e IBF, foi para a trocação no oitavo episódio e adiou para o nono o final da disputa. Entendeu o árbitro Harvey Dock que o castigo era brutal e não havia como reverter o quadro. Decisão acertada.
Acabou dessa forma a Luta da Década que fez a independência financeira desses dois excepcionais boxeadores. Talvez Spence Jr. se aventure na divisão acima, a dos médios ligeiros. Crawford passou a integrar o pequeno grupo de campeões unificados. Ele, Canelo Álvarez, Jermell Charlo e Devin Haney. Desses quatro gigantes ele é o maior no momento.
A imprensa especializada já especula quando serão iniciadas as negociações para outra super-luta. Jaron Ennis (31-0) poderá fazer frente a Crawford? Tem altura e dinamite nas mãos. Com certeza será duro oponente para o Gênio do Boxe.
Preliminares exibidas na noite de 29 de julho pela ESPN da T-Mobile Arena em Las Vegas.
Médios ligeiros – Yoenis "El Bandolero" Tellez (6-0) TKO3 Sergio García (34-3)
Substituto de penúltima hora de Jesus Ramos, Tellez aproveitou a chance de entrar no ranking mundial. Mostrou que um bom golpe pode encerrar um combate complicado. Vinha se movimentando bem o espanhol até receber um petardo de direita que o fez bambear. Outro murro o jogou na lona. Diante de duro castigo, o mediador Robert Hoyle resolveu parar com as escaramuças. Talvez um pouco cedo.
García ensaiou um esperneio, mas foi só para tentar dizer aos promotores americanos que podem contar com ele no futuro. Três lutas nos EUA e três derrotas. Dá para ver que o circuito dos Estados Unidos tem o nível muito mais elevado que o da Espanha ou da América do Sul.
O Bandoleiro triunfou, mas parece-me cedo para pensar em título mundial. Diante de rivais de maior qualificação pode ser necessário algo mais que pegada.
Título galo WBC – Alexandro Santiago (28-3-5) W12 Nonito Donaire (42-8)
Assisti o ocaso de um ídolo. Donaire deverá ser indicado para o Hall da Fama logo que seja elegível. Creio ser um despropósito, aos 40 anos, continuar na dura e exigente atividade de boxeador profissional. Sinceramente, torço para que ele e sua esposa abram uma academia e mudem o foco desse grande ex-campeão em quatro divisões.
Santiago boxeou sem loucuras e sua maior juventude fez a diferença. Muito emocionado o mexicano porque era a zebra. Valeu o trabalho de seus treinadores, Rômulo Quirarte na cabeça.
A decisão foi unânime. Max DeLuca viu o mesmo que eu, 115-113. Chris Migliore e Steve Weisfeld viram o que viu Eduardo Ohata, 116-112.
Eliminatória WBC e WBA e título WBO Latino dos leves
Isaac "Pitbull" Cruz (25-2-1) W12 Giovanni "El Cabrón" Cabrera (21-1)
Combate estranho… não serei eu a xingar juízes, mas que decisão!
Cabrera conectou duas sequências e um direto nos doze assaltos. Em nenhum momento exibiu más intenções. Queria, e conseguiu, terminar de pé. O que não esperava foi uma decisão dividida.
Cruz teve contra si uma falta por atirar a cabeça para se livrar dos inúmeros e irregulares clinches. A complacência do árbitro Thomas Taylor acabou premiando o anti-boxe do perdedor que mostrou-se surpreso com o anúncio do resultado.
Ohata e eu vimos ampla margem para o vencedor. Eu, inclusive, o vi vencer todos os assaltos. Os escores surpreendentes para mim foram: Glenn Feldman 113-114, Benoit Roussel 114-113 e Don Trella 115-112.
Na entrevista Isaac disse pensar estar numa festa tal foram os "abraços recebidos de Cabrera". Sobre Ryan Garcia desconversou elegantemente. Deixa com os empresários. O fato é que Gervonta tem outros planos que envolvem super-evento com Shakur Stevenson.
Imagem: Sporting News